domingo, 14 de junho de 2015

Uma lista diferente de mudanças

Laguna Verde, Rota do Salar de Uyuni,... Comecinho da rota... E eu já era outro!


Depois de ler muitas listas de coisas que mudam na cabeça de alguém que começa a viajar, eu pensei em fazer a minha, que envolve mais que tudo uma coisa que é contra-mão para muita gente que quer sair pelo mundão, mas não consegue dar o primeiro passo: o medo.


  • Quando você viaja, você perde o medo de faltar dinheiro, pois, vai ter alguém em algum lugar do mundo que precisa justamente do que você sabe fazer, e garante uma cama e comida ao menos por um dia. (Exemplo: Procurando uma entrada aberta para as ruínas de Ollantaytambo no Peru, eu entrei em um hotel para pedir informações. Saí com uma oferta de trabalho num restaurante).
  • Você vai perder o medo de por a mão na massa, caso tenha. Para que esperar a grana começar a faltar para começar a buscar alternativas, né? Então, assim que ver aquela placa no bar do Hostel "Staff needed" (sobretudo se for um hostel ótimo com bar super animado), porque não pegar a vaga e garantir dormidas, comida e uns shots grátis pelo tempo que você quiser trabalhar lá?
  • O medo e vergonha de dar um "olá" ou  "bom dia!" a qualquer um na rua vai se tornar bobo, mesmo no Brasil, com risco de levar um tapa na cara. :D
  • Se seu cartão de crédito tiver algum problema e você se ver apenas com umas moedas pode virar realidade, aí você vai perder o medo do desapego, vai usar a inteligência também e ver que muito do que você carrega na mochila pode ficar fora dela. Seja um fogareiro de camping, ou até sua câmera. Você ser capaz de consolar naturalmente: Bem, já faz tempo que usava... Não usei mais que duas vezes... Já está na hora de ter um novo... Não vou usar depois que voltar de viagem...
  • Você não vai ter medo das pessoas, você vai ver que todas são iguais em desejos e angústias. E vai ser incapaz de ver alguém "superior" como realmente superior. Mas, isso pode ser perigoso para algumas pessoas, pois, perdendo essa inibição, se perde também o respeito. E o que eu quero dizer é que você não vai ter medo de sorrir para alguém "superior" ou ser tão inibido ao ponto de parecer não confiante e não confiável.


terça-feira, 9 de junho de 2015

Quando me encontrei com Van Gogh


A sorte de ter/fazer amigos espalhados pelo mundo vai te proporcionar momentos que você não ousaria esperar. Principlamente quando envolve as pesssoas, ou, mitos que influenciam sua vida e cujas histórias e obras que realizaram são alguns dos seus pilares mais fortes.

Nesse caso, eu falo de Van Gogh, o pintor-louco-gênio-romântico-mutilado-pós-impressionista, que nasceu e viveu boa parte da vida na Holanda e depois vagou pela França buscando inspiração e alívio para seu sofrimento interno. Em sua fase no Sul da França, na região de Arles, se destacam os quadros Café em Arles e Quarto em Arles, onde havia ate compartido com outro pintor e seu amigo brigao, Paul Gauguin (Segundo teorias, teria cortado parte da orelha de Vincent, e nao ele mesmo).

Porém, minha história se passa no norte da França.

Lendário Albergue Ravoux. Vincent alugava o quarto mais barato, onde se suicidou aos 37 anos.

Vejam como o olhar incrível de Van Gogh era capaz de transformar a paisagem. Quadro Campo de trigo com corvos.

Eu tive a grande sorte e oportunidade de vida de ter um amigo que vive em Cergy le Haut, uma pequena cidade a 1 hora de Paris (Tomando o trem RER A, é a última estação, paguei €6,70 pelo ticket).

Van Gogh não viveu em Cergy le Haut, mas estava bem pertinho, em Auvers-sur-Oise, onde ele pintou Campo de trigo com corvos, A prefeitura de Auvers-sur-Oise e, o meu preferido: A igreja de Auvers-sur-Oise.

Mas, isso não é suficiente, Van Gogh continua nessa cidade, dormindo seu sono eterno, e como se fosse bastante, seu irmão Theo, repousa a seu lado.


Visita à original, em Auvers-sur-Oise, e ao quadro, no Museu D'Orsay, em Paris. Emoção dupla e quase mortal :D

Trecho do blog "Conexão Paris":
Quando Vincent a pintou, dia 13 de junho de 1890 o dia estava maravilhoso. Em carta ao seu irmão, ele descreve a cena:
este é um grande quadro da igreja do vilarejo – em um momento onde a construção adquiri um tom violeta contra um céu azul profundo, as janelas com vitrais são manchas de azul outremer, o telhado é violeta e com uma parte laranja. Na frente, um plano com ervas floridas e um pouco de areia ensolarada…(1).
...

Não podia imaginar que Issam, meu amigo/irmão/magrelo como eu, vivia tão perto da última casa de Van Gogh, meu grande ídolo. E assim, essa supresa foi preparada para mim, me levaram de carro até lá, até meu encontro com o pintor de Pai Tanguy e Comedores de batata.

No caminho até o cemitério estão a igreja e os campos de trigo, mas, as casinhas de pedra com quase 500 anos também chamam atenção, claro. Poucos turistas, acredito que só os aficcionados podem incluir um roteiro como esse em suas viagens. Realmente, é um tipo de viagem que envolve mais peregrinação que qualquer outra coisa.


Casinhas medievais à venda no meio do caminho. 

Claro que custei a acreditar no que estava se passando a minha volta, eu estava reecontrando um amigo depois de 1 ano, viajando junto com uma amiga que não via há outros dois anos (nos encontrando em Paris, apenas! :D) E depois me reservam esse presente, com direito a pic nic bem francês.


Meu amigo/irmão/magrelo como eu, Issam (Jaqueta azul) e Katrin, minha amiga alemã, ao meu lado. Reencontros!

Quando vi, estava apenas sentado no chão, por uns bons 20 minutos, olhando, apenas olhando e sem nem pensar em tirar fotos das lápides de Vincent e Theo. Era como se estivesse conversando com eles. E pensando "como, vim parar aqui, como?". Eu nunca imaginaria estar tão perto deles quando foleava revistas ou livros sobre Van Gogh quando estava com meus 12-13 anos...

O encontro insquecível:
Theodore morreu em Utrecht, na Holanda, mas, dois anos depois, seus restos foram levados para junto do irmão.

Vincent vendeu apenas um quadro na vida, e barato... Sobreviveu e seguiu pintando gracas a Theo, que financiava seu trabalho. E nos seus últimos dias, os mais sofridos, disse a seu irmao que "a tristeza será eterna".

...


Se você também e fã de Van Gogh, saiba que não é difícil ir visitá-lo, é só tomar o tre RER A (€6,70) e descer na última parada (Cergy-le-Haut). Os trens RER não passam em todas as estações de Paris, pois são trens para longas distâncias e que vão além do anel 5 de Paris (A cidade é definida em zonas ou anéis, o 5° é o último. Portanto, os bilhetes são mais caros).

Mas, claro que você pode tomar um metrô normal até uma estação onde eles passam, seguramente não mais que duas paradas. E você vai encontrar o mapa completo com todas as conexões em qualquer estação.


  • Outro lugar importante para visitar, e de graça também, é a casa de Doutor Gachet, que dava assistência a Van Gogh e outros artistas como Cézanne e Renoir. E teria dito a Vincent para pintar febrilmente como forma de curar seus males.
  • De Cergy-le-Haut, procure por transporte público até Auvers-sur-Oise, ou contrate um táxi. Quem gosta de alugar carros, pode ser uma boa ideia também, já a distância de Paris é de apenas 30km.
  • Não é preciso pagar nada para visitar a Igreja ou cemitério, apenas o quarto que Van Gogh habitou, que serve como um pequeno museu. (€7,80 para estudantes). 
  • O quarto fica em cima de um restaurante, assim como seu quarto em Arles, era normal na época. ... Tudo muito próximo um do outro, te permite fazer esse tour em apenas uma tarde.


Assita o vídeo completo da nossa viagem à França aqui! :D



segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mudei, finalmente... Ou, cresci (Aviso: texto enorme... Mas cheio de reflexões)


Vila de Chicon, no caminho para o orfanato de Munaychay... A vista alivia a subida de 1 hora. 

Seguia aqui no meu trabalho na ONG em Urubamba, no Peru e resolvi parar para escrever e tentar aliviar esses últimos dias. Bateu uma vontade grande depois que falei com um amigo sobre o quanto a gente muda depois de uma viagem longa para fazer voluntariado e, sobretudo, os fatores que nos fazem mudar.

No meu caso, são 50% coisas incríveis, e 50% o peso do que creio ser quase uma característica de todos os projetos de voluntariado e amparo infantil:

O peso de ver uma Organização como a Corazones para Peru passando por problemas. É injusto ver um projeto tão imenso e cheio de boa vontade sendo prejudicado por terceiros que não fazem sua parte. Sorte que os outros se desdobram e conseguem levar o barco, os outros voluntários que, como eu, se transformam em pais, mães e ainda tem tempo para cuidar da nossa grande horta, dos animais e do restaurante.

O peso também de ver crianças sendo tiradas de lares onde eram maltratadas e acompanhar todo seu processo de adaptação em um orfanato... Que, por mais que ofereça o maior amparo que ja vi na minha vida, não vai ser visto como um lar por um bom tempo.

Assim como no Brasil, aqui há pais que alcoólatras, pais que deixam seus filhos com outros parentes, crianças que nasceram com problemas depois de um gravidez sem amor. Alguns são tão pequenos, que quando são capazes de ter uma noção de mundo e sociedade, já estão vivendo no orfanato há muito tempo. Então, todas a professoras e voluntarios automaticamente se transformam em pais e mães.

Nesse quesito é um trauma e uma dor sem tamanho quando chega a hora de ir embora, quando o próximo grupo de voluntários vem e você precisa ir. Você precisa sentar com os pequenos mais apegados a você e tentar explicar (até para você mesmo) como vai ser a despedida e ter o maior cuidado do mundo antes de fazer uma promessa que não se pode cumprir e machucar ainda mais esses coraçõezinhos.

Voltar... é possível, claro! ... Mas, quando? O desafio de querer cuidar dessas vidas, mas também ter a sua para tocar é muuuuito angustiante.


Froelan e Edwin, dos que são mais apegados a mim e responsáveis pelo meu sofrimento em partir. ^^

Para alguém que segura o choro só de ver que as crianças lembram seu nome e pedem ajuda excluisvamente a você para fazerem as tarefinhas, pensar que você é mais um que os abandona é de tirar as forças. Só me tranquiliza saber que antes mesmo de sair, os novatos voluntários estarão chegando, assim posso ver quem vai ser ideal para cuidar dos meus pirralhos.

Fora isso, tudo está bem... Tive a sorte de me mudar a tempo para o alojamento principal dos voluntarios em Urubamba. Quando eu falo "alojamento", vai te parecer um albergue desses bem pulguentos, né? Mas não, é uma casa super confortável, enorme, onde cada pessoa tem seu quarto e sua cama super confortável. Quanto paguei por esse pacote? Nada, apenas cheguei para ajudar e esperei pouquíssimo para surgir uma vaga para mim.


Outros voluntários e funcionários da ONG juntos para uma chicha obrigatória nas montanhas. Respeito à cultura local :D

Nessa casa não falta comida e animação, o respeito também é grande ao espaço e privacidade dos outros. E, quando dá, os voluntários sempre fazem uma refeição juntos e, claro, uma festinha. Mas, o melhor acontece quando há comemorações em Munaychay (O orfanato de fato, com várias casas e, no centro, a Casa Redonda, onde cabem todas as professoras, crianças e volutários juntos. Para comer, dançar, receber vistantes. .. Essa parte não sei descrever bem, pois é pura felicidade, e felicidade não podemos descrever)
.

Mas, e quanto a mudança? Sim, tudo mudou na minha cabeça e em qualquer caminho que vou seguir de agora em diante. Eu sei que vou passar por algumas gafes na minha volta ao Brasil, por que não vou pensar duas vezes em pegar uma criança pela mão, mesmo se ela estiver com os pais, ao menor passo que ela der em direção a rua. Sei que vão pensar que eu sou louco ou que estou dando um cantada quando der bom dia ou cumprimentar qualquer pessoa desconhecida pela cidade, apenas porque tomei isso como hábito (bem normal aqui).


Na terra, na ONG, nas escolas... onde for! Somos pau para toda obra :D Eu e meu amigo Jakob Pietz

Nos sábados, dia livre, dá para aproveitar a proximidade a Cusco para ir pagar de turista. Com Tobias, meu parceirão!

Eu preciso dar um freio em achar que vai aparecer uma luz no fim do túnel para tudo, não que esperança seja ruim, é por que, no meu caso, eu preciso crescer... Já perto dos trinta, a gente precisa saber que bancos e empresas estão a postos para apagar qualquer luz no fim de nosso túneis. :P Eu também preciso encontrar uma casa, um lugar para voltar depois de minhas próximas viagens, onde a parede vai ter tempo para de encher de fotografias sem medo de serem retiradas uns meses depois em busca de outra parede...

Espero que vocês, tenham essa oprotunidade que eu tive, de não precisar pagar milhares de reais a uma agência de "turismo voluntário" que dura um mês e onde você não tem metade das experiências e do envolvimento que eu tive. Qualquer coisa, pergunta para mim, e eu vou ter o maior prazer em te contar. Mas, só se você tem muita vontade no coração para ajudar :D



domingo, 7 de junho de 2015

Vale do Catimbau e o camping cheio de arte

Se esse homem tiver ideia da importância que sua arte tem... Estátuas a partir de R$20,00

O Vale do Catimbau ,no sertão pernambucano, não tem só o considerado maior sítio arqueológico do Brasil e aqueles cânions de impressionar qualquer um. Tem José Bezerra também, escultor que faz essas obras incríveis e mora humildemente com sua família no meio do sertão. Vai acampar na área do sítio dele! É baratinho, ele ainda vai fazer uma roda de contos no meio da noite, te apresentar a família dele e você ainda pode comprar uma de suas artes quase de graça (Pois ele faz porque é seu dom, e não pra ganhar dinheiro. Tanto é que, tristemente, as peças são vendidas por centenas de euros lá fora e nem 1/5 disso vai pra ele.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Da série: Primeiras Viagens (Roma, catacumbas, e nós perdidos lá dentro)

Uma porta semi aberta, e duas pessoas muito curiosas. Acha que deu problema? :D





























Siga os guias... ou pelo menos, decore o caminho para voltar...

A Basílica de São Sebastião abrigava os restos mortais do santo católico, morto a flechadas pelos romanos, segundo a história bíblica. Se localiza na Via Appia Anticca, a rua mais antiga da cidade (onde, inclusive, moram muitas celebridades, ao nível de Sofia Loren, por exxemplo), e é porta de entrada para as catacumbas de São Calisto, o primeiro cemitério de Roma, onde 16 papas já foram sepultados. Mas já não há restos mortais de ninguém, só urnas e nichos, graças a Deus!
O fato engraçado é que: Eu não queria pagar pelo tour guiado que ia até as catacumbas, minha colega de passeio tão pouco (Uma sul coreana super simpática e extremamente católica, fazendo um tour que o próprio pai definiu para ela). Fiquei perambulando ali pela igreja mesmo, já estava bem interessante, já era a quinta coluna de mármore onde cristo tinha sido acorrentado, o décimo pedaço de madeira da sua cruz, etc..
Mas aí surge uma porta destrancada no meu caminho, que dava para o subsolo, cheia de placas de mármore com textos romanos e uma coisa sombria me dizendo: "Entre... Agora"
Não deu outra, quando me vi já estava perdido lá em baixo. 30 min tentando achar saída, tentando tranquilizar Boran, a coreana... E parando de vez em quando pra tirar foto ...
Nossa sorte foi encontrar duas freiras, também perdidas...
Alguém lá em cima percebeu que as irmãs não voltaram do "passeio" e alguém foi buscá-las... Encontrando mais uma menina em pânico e eu feliz da vida! :D